28 de junho de 2010

Che Guevara recebe o Madureira, primeiro time do mundo a jogar bola em Cuba depois da revolução

Clique no link para ler a curiosa reportagem da revista TRIP

Che recepciona, da esq. para a dir., Alfredo, Alfredinho, Che, Odir, o empresário Zé da Gama e Homero

23 de junho de 2010

Camisa da Coréia da Norte usada contra Portugal

créditos: blog http://franciscotrindade.blogspot.com

22 de junho de 2010

Você merece o que ganha?

Outro dia, num debate no rádio, escuto um famoso ator reclamar dos políticos que ganham muito, trabalham pouco e quase sempre são corruptos.

Ele falava do dinheiro público de todos nós - sociedade que trabalha e paga impostos - indo para o bolso de políticos tão desonestos e desprovidos de ética. Reclamação banal, incontestável em si, senso comum total.

O ator não estava sozinho, discutiam com ele sobre a “ética na política” o jornalista, âncora do programa, e um executivo de grande empresa. Todos diziam mais ou menos o mesmo sobre os políticos, sobre a corrupção no Brasil e tentavam imaginar soluções para se alcançar a tal “ética na política”; faziam o papel de “cidadão consciente”.

De repente, eu que ouvia distraidamente o debate, reparei que todos eles – ator famoso, jornalista e executivo – deviam pertencer à chamada “classe média alta” e ganhar lá seus R$10 mil por mês, senão mais.

O debate era sobre os políticos e facilmente todos chegaram à condenação desses parasitas, que representam o Estado explorando a sociedade. Mas, mudando de foco, porque eles que ganham mais ou menos o mesmo que os políticos não se sentem em momento algum explorando a sociedade?

Eles teriam uma resposta pronta e fácil para isso. Os políticos são “funcionários públicos”, são pagos com “nossos impostos”, eles deveriam trabalhar para a sociedade e na verdade a exploram. Já o ator, o jornalista e o executivo trabalham para empresas privadas, é de lá que tiram seus rendimentos, eles não recebem dos impostos da sociedade e ninguém tem nada com isso. Uma resposta pronta, típica da superficialidade do senso comum, perfeita para tranqüilizar a consciência dos que ganham muito bem. Os 3 sentem-se bons cidadãos, politicamente corretos, condenam os políticos e vivem uma vida muito boa de “classe média alta”.

Essa linha de conduta, adotada pelos 3 debatedores cidadãos, trata as desigualdades da sociedade mais ou menos como uma corrida na qual os competidores estão separados por raias. Na vida, como na corrida, existem os que estão na frente, os intermediários e os que ficaram para trás. O primeiro colocado não tem nenhuma relação ou culpa pela situação do último colocado. O máximo que se pode fazer é oferecer um treino melhor para que os últimos avancem. Muito confortável para as consciências.

Eu prefiro outra, mas simples e incômoda. Uma gangorra, em que os dois lados estão umbilicalmente ligados, e o de cima só sobe levantado pelo de baixo. Traduzindo toscamente para o mundo real: qualquer rico é rico às custas de pobres, de muitos pobres. E como a sociedade não é composta apenas pelos seus extremos, qualquer um que ganhe “mais ou menos bem”, o faz às custas de outros.

Para que você tenha uma noção o salário médio no Brasil gira em torno de R$1208,64 (http://www.cut.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=11170&Itemid=170)

E o “PIB per capita” anual, ou seja, a riqueza total do país dividida entre a população é de U$10 mil por cabeça, cerca de R$18 mil, que divididos em 12 meses dariam cerca de R$1500,00.
(http://www.indexmundi.com/pt/brasil/produto_interno_bruto_%28pib%29_per_capita.html)

Não estou aqui propondo salários iguais para todos e nem vou entrar em discussões tecnicistas sobre os valores de salário. Basta dizer que o nível de desigualdade de salários e rendimentos não tem sustentação em qualquer critério baseado no trabalho das pessoas. O que define as diferenças é a melhor ou pior posição no mercado, aliada à sua situação de explorado ou explorador, nesse caso de sócio maior ou menor nessa exploração. Esqueça competência, estudo, dedicação, acredite: eles pesam bem menos do que os fatores acima.

O fato é que há uma grande maioria ganhando menos do que esses valores e uma minoria ganhando bem mais do que isso. E o simples ato de se localizar no lado de cima pode constranger algumas pessoas. A simplicidade chocante de raciocínios do tipo “- eu vivo muito bem porque muitos pobres vivem muito mal!” gera exige elucubrações e de cegueiras mil.

São poucos os que dizem simplesmente “- Sou rico às custas dos outros mesmo, e daí? O mundo é assim! eles que se fodam”. Confesso que admiro a franqueza deles, é preferível à hipocrisia dominante.

O jornalista pode dizer que não explora ninguém, quem lhe paga é uma pessoa mais rica ainda, o dono da rádio – Que mal tem se eu pedi R$10 mil e ele aceitou? O ator famoso idem, quem lhe paga é uma grande rede de TV.

Para o executivo da grande empresa é um pouco diferente. Ele quase sempre sabe quanto paga para a maioria dos trabalhadores que realmente produz. E sabe que eles ralam, tanto ou mais que ele, que sem a exploração deles seu salário nem existiria, ele nada produz, ele “gerencia” o que os outros produzem.

Ele também sabe que o programa de rádio do jornalista e a novela do ator famoso só estão no ar porque são bancados pelas propagandas que sua empresa faz na média. É ela que no final das contas paga as contas de toda a mídia. Ele sabe mais. Sabe que a propaganda é somente um recurso para vender as mercadorias e realizar os lucros de uma produção feita por trabalhadores. E ele sabe que se todos fossem justamente pagos pelo que realmente fazem não haveria lucro.

Dito de maneira simples: a exploração do trabalho permite produção de mercadorias e os lucros; que permitem os altos salários dos executivos; que permitem que ele vá ao teatro prestigiar o ator famoso.

Para vender suas mercadorias e realizar os lucros a empresa gasta em propaganda no rádio e na TV. Ela permite que se pague bem para quem mantém os ouvintes e telespectadores interessados; e assim, por relações muito indiretas e muito reais, o jornalista e o famoso ator são na verdade sustentados pelos trabalhadores.

Assim como jornalista, o ator e o executivo são todos os que trabalham como acessórios dos verdadeiros ricos e recebem deles uma razoável recompensa. Professores, advogados, médicos, personal trainers, decoradores, cabeleireiros, artistas, enfim todos aqueles que prestam serviços aos ricos e por isso ganham lá seus R$4 ou R$5 mil recebem uma cota da exploração do trabalho alheio, são parasitas menores.

Mas isso tudo exige estabelecer tantas relações invisíveis que elas ficam parecendo apenas uma grande elucubração de Sicilio Rocco, que obviamente será descartada para o bem das consciências cidadãs de um jornalista, de um ator famoso e um grande executivo.

Admitir essa realidade invisível e incômoda mostraria a nossos 3 debatedores que eles não muito diferentes dos políticos que malham feito Judas. A diferença é que a sacanagem dos políticos é visível, é ilegal, e por isso torna-se o alvo catártico de uma boa parte da sociedade.

Ninguém é obrigado a abrir mão de privilégios nessa sociedade, ainda mais se estão dentro da ordem legal e são moralmente aceitos pela sociedade. Mas não me venha você que ganha lá seus 4 ou 5 mil reais, que vive da exploração e que causa a exclusão, com papinho de “cidadania”, “consciência”, “ética”, “ecologia” e outras baboseiras que você usa para aliviar a consciência enquanto perpetua esse mundo. Admita: você vive sua vida muito bem e o resto que se foda! Aproveite enquanto pode e não reclame dos ladrões.

Porque o político deveria ser exemplo de virtude pública numa sociedade dominada pelos vícios privados? O político não é pior do que o jornalista, do que o grande ator e do que o executivo de grande empresa, todos procuram o "seu" e vivem do alheio, saibam disso ou não.

Informação de última hora:
O ator famoso já produziu filmes e peças de teatro de gosto duvidoso, financiadas com dinheiro público e leis de incentivo fiscal. O jornalista tem empresas estatais entre os patrocinadores de seu horário, aquele mesmo onde ele denuncia os enormes gastos com propaganda feito pelos malvados políticos. O executivo não revela, mas sua empresa sonega impostos e apóia campanhas eleitorais de alguns políticos.

16 de junho de 2010

O caô da nova classe média

Muito se tem falado sobre a “nova classe média” que se tornou maioria no Brasil de Lula.

Verdade ou mentira? Um pouco dos dois, o que dá margem a uma grande manipulação ideológica dos fatos, afinal a ideologia sempre se apóia em verdades parciais.

É verdade que o nível de vida da população melhorou? É óbvio que sim. Melhoraram os salários, melhorou a renda, o crédito, o emprego, aumentaram os auxílios estatais (Fome Zero e outros estaduais e municipais semelhantes). Isso tudo se refletiu no aumento do consumo e na melhoria da condição de vida para muitos. Mais casa própria, mais reformas nos barracos, mais carros, motos, eletrodomésticos, etc. Não vou citar números e pesquisas, eles estão disponíveis aos montes por aí. E, além disso, qualquer um que more na periferia ou viva entre pobres pode checar isso empiricamente.

Ignorar esses fatos é pura imbecilidade, é escolher a cegueira. A direita e alguns esquerdistas se irritam muito com esses fatos. Irritam-se porque os fatos, as “condições objetivas”, favorecem Lula, garantem sua popularidade e provavelmente elegerão Dilma. De nada vale dizer que o PT não fez “mudanças estruturais”. Não fez mesmo! E penso que nem prometeu isso. Importa para massa – mesmo que opinemos de maneira diferente – que as coisas mudaram para melhor e são sentidas assim.

Negar ou minimizar o impacto econômico objetivo na vida das pessoas e o impacto na subjetividade, na auto-estima de boa parte da população é um exercício de ideologização árduo, ainda que feito pro gente “de esquerda”, afinal ideologia é, sobretudo, falseamento da consciência sobre realidade. E a esquerda que insiste nesse caminho paga e pagará um preço: perda de respaldo popular e, conseqüentemente, a “guetização” em nichos da classe média, intelectuais, estudantes, militantes liberados profissionais, enfim, gente com discurso classista, mas bem distante da vida da classe. O que por sua vez resulta em dificuldades de mobilização, luta fratricida, acusações de traição, rachas e disputas mesquinhas até mesmo pelo controle de sites na internet.

Mas vou deixar isso tudo de lado. A idéia desse texto é refletir um pouco sobre o que é a porra da classe média? Prá começar, historicamente esse foi o nome - middle class - que os ingleses deram para o que na França se chamava simplesmente bourgeoisie. A middle class era a classe do meio numa sociedade dividida entre os de cima (nobres) e os de baixo (trabalhadores pobres e camponeses). Em síntese, middle class era a burguesia, em ascensão na época.

Não vou aqui recuperar a história do termo, mas o que temos hoje é a eliminação total dos conceitos que definiam as classes sociais. Desapareceram as relações sociais entre as classes, não há menção alguma a proprietários e trabalhadores. Tudo se limita ao nível de renda das pessoas, é ele que define a classificação das pessoas. Assim, a “respeitada” Faculdade Getúlio Vargas (FGV) classifica as pessoas em:
Pobres, Remediados, Classe Média e Elite. Vejam a tabela abaixo:


http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI10070-15228,00-A+NOVA+CLASSE+MEDIA+DO+BRASIL.html

Por isso eu vou apelar aqui para a Constituição da República Federativa do Brasil! Isso mesmo Sicilio Rocco vai se basear na lei! E como a lei muda lentamente em alguns aspectos temos um “fóssil conceitual” muito útil para essa reflexão, trata-se do Capítulo II, Dos Direitos Sociais, artigo 7º, inciso IV. É a lei que define o Salário mínimo necessário. Vejam que maravilha:

"[...] salário mínimo fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender às suas necessidades vitais básicas e às de sua família, como moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, reajustado periodicamente, de modo a preservar o poder aquisitivo, vedada sua vinculação para qualquer fim"

Desde sempre se entendeu que essa lei definia o limite de sobrevivência digna para um trabalhador e sua família. Ou seja, abaixo disso estava a miséria, a partir desse limite, começava a pobreza.

Pois bem, como muitas leis no Brasil , essa permaneceu sem regulamentação detalhada, tornou-se peça figurativa e o salário-mínimo real sempre esteve condicionado ao que governo e patrões diziam ser possível, que obviamente sempre foi insuficiente para cobrir as despesas descritas em lei.

Mas há quem se dedique a tarefa de calcular o valor do salário-mínimo legal. Há tempos o DIEESE faz isso da seguinte forma:

“Foi considerado em cada mês o maior valor da ração essencial das localidades pesquisadas. A família considerada é de dois adultos e duas crianças, sendo que estas consomem o equivalente a um adulto. Ponderando-se o gasto familiar, chegamos ao salário mínimo necessário.”
(http://www.dieese.org.br/rel/rac/salminMenu09-05.xml)

Ou seja, o Instituto insiste em calcular o “mínimo ideal” e mostrar sua discrepância em relação ao vigente de fato. A última atualização (maio 2010) conclui que ele deveria ser de R$2.157,88.

Sempre que eu cito esse valor numa conversa a reação da maioria é de admiração. Já ouvi coisas do tipo – Com um salário desses eu seria rico! E eu respondo: - Não, aí você começará a ser pobre, seu miserável do caralho! (Freud e Young também já deram seus tapões em histéricas, e normalmente funcionava...)

De um lado há uma lei na constituição e há uma pesquisa séria que calcula os valores. Do outro lado há a FGV, para quem os miseráveis não existem; os pobres passam a remediados quando ganham mais de R$768,00; você adquire o passaporte para a classe média com apenas R$1064,00 e se puder, passa para a elite com R$4591,00!

E assim, abaixando um pouco a faixa de renda aqui, aumentando ali, você consegue produzir o milagre de ter um país no qual 52% das pessoas fazem parte da classe média! Que maravilhas a estatística faz pelo Estado, aliás o nome original era estadística, saber realmente voltado para o Estado.

Para completar as pessoas se portam de uma maneira curiosa que só reforça a estatística da FGV e a propaganda do governo. O miserável raramente se assume como tal, na sua imaginação ele é apenas um pobre. O pobre igualmente se envergonha de ser um pobre, e normalmente se classifica como “remediado”, “classe média baixa”. Na outra ponta, o rico também nega sua condição de classe! Quase sempre se classifica com classe média, “classe média alta”, “bem de vida” (quem seriam os de cima?), parece ter certa vergonha de dizer simplesmente “sou rico”, ou seria uma pontinha de culpa mesclada com medo de assalto e seqüestro?

O fato é que todos desejam ser classe média, essa ampla faixa onde a estatística pôs a maioria e onde a maioria se coloca voluntariamente. Não é quase a igualdade social!?

Só pessoas amargas como Sicilio Rocco para insistir contra os dados “científicos” da FGV, contra a vontade da maioria e dizer que não temos nem mesmo uma maioria de “legalmente pobres”.

E apesar disso, a impressão é que a vida melhorou, pois em terra de cego quem tem Lula é Dilma.

14 de junho de 2010

Dunga e os chiliques da imprensa

Dunga não deveria ser o técnico do Brasil, convocou mal a seleção, escala mal mesmo dentre seus escolhidos e é um tipo que apregoa um patriotismo submisso e irracional típico de militares de pijama.

À parte tudo isso, reconheço que ele tem ampla razão ao menos num aspecto: o tratamento dispensado á imprensa. Tenho visto verdadeiros chiliques de jornalistas reclamando dos treinos fechados, das restrições às entrevistas coletivas, etc.

Puta que pariu! Há quase 4 anos, após a Copa de 2006, qual era uma das principais críticas?
- A preparação da seleção foi uma zona! Qualquer um entrava! Jogadores abusavam nas folgas, chegaram sem condições ao primeiro jogo! E por aí seguia o rosário desfiado pela imprensa.

Eis que Dunga fez aquilo que pediam: botou ordem na casa. Eu achei que as coisas seriam bem mais duras: nada de entrevistas, nada de coletivas, nada de treino aberto. Para mim seria justificável (e comum em outras seleções). Eu não tenho a menor necessidade de ver os treinos ao vivo, de ouvir Galvão Bueno narrando treino de dois toques, de ficar ouvindo nossos “gênios da bola” em entrevista. E, sinceramente, creio que a maioria dos brasileiros não sente falta disso.

Mas Dunga ainda abre diversos treinos, permite 15 minutos de imagens em treinos fechados, oferece todos os dias 2 jogadores às feras em entrevistas coletivas. Isso não basta? As TVs têm imagens “novas” e e jogador falando todo dia para seus noticiários. Mas há nisso um tratamento “igualitário”, e ser igual incomoda muita gente numa imprensa acostumada a privilégios, vide a Rede Globo.

O que querem? Imagens e entrevistas exclusivas? Revelar os segredos do Brasil que “só eles” sabem? Conseguir o “furo jornalístico”, mercadoria valorizada por chefes e patrocinadores? É a explicação mais plausível. Mas o que isso tem a ver com as necessidades da seleção? É útil ao Brasil revelar quem joga, como joga, as jogadas ensaiadas, perturbar jogadores com repórteres ávidos por entrevistas, de preferência exclusivas? A resposta é óbvia.

A nossa imprensa adora dizer que serve ao povo, à curiosidade geral do povo brasileiro, agem como se fossem eleitos para representar a vontade nacional – porque o jornalismo esportivo seria diferente do que cobre a política? – mas na verdade defendem apenas seus interesses, pois o povo quer ver jogo.

Deve ser um grande incômodo para as centenas de jornalistas que cruzaram o Atlântico para cobrir a seleção perceber que têm pouco trabalho, que são praticamente inúteis, que sem eles tudo e passa muito bem. A situação exige que sejam criativos, “inventem” novas pautas, sugere talvez que façam matérias sobre a realidade social e política da África, enfim, que façam aquilo que nunca fazem, um jornalismo mais interessante.

Essa situação mostra aos jornalistas suas limitações, o que deve acarretar um grande mal-estar. E não é que Dunga acertou em cheio? De uma só vez prepara melhor a seleção, cria um inimigo externo para motivar o grupo e coloca uma imprensa muito mimada no seu lugar.

13 de junho de 2010

Sicilio Rocco e a angústia das palavras



* texto de Marcus Vinicius Batista

Dizem que quem escreve sempre opta por escrever sobre o ato de escrever. Cedo ou tarde, cai na armadilha da auto-referência. Seria uma espécie de enrolação, fruto da falta de criatividade do autor do texto. Ou da pressa mesmo, para quem está sem assunto e precisa preencher linhas. Sempre tive a suspeita de que, quando se escreve sobre o escrever, o autor fecha os olhos para o mundo, abaixa a cabeça e visualiza o próprio umbigo no horizonte. 


Honestamente, não assinaria embaixo estas afirmações. Ser categórico sinaliza ingenuidade ou presunção diante de uma prática tão particular, por vezes solitária. Começo a considerar que pensar sobre a escrita pode nos conduzir para a autocrítica, o que também configura mera especulação.

Há a terceira via. Escrever sobre a escrita pode ser um frágil exercício de auto-engano e de crime lesa-leitor, que acompanhou o texto até o final na esperança de refletir sobre algo importante, saborear palavras poéticas ou simplesmente se entreter.

Não resolvi escrever sobre o escrever para fraudar sua inteligência, leitor. Escrevo como tentativa de compreender as angústias de um velho amigo, que não vejo há quase 20 anos. E que, involuntariamente, se tornaram minhas!

Os caminhos da Internet permitiram nossa reaproximação, ainda virtual. Trocas de e-mails. Leitura recíproca de blogs. Cordialidade e palavras agradáveis. Na semana passada, porém, recebi um e-mail dele, em que se questionava sobre os motivos que nos levam a escrever.

È possível, com as palavras, mudar o mundo? Ou, pelo menos, incomodar mentes? Ou – em ambições mais modestas – deixar o sujeito desconfortável
na cadeira diante das palavras lidas?

A mensagem me paralisou, pois jamais tinha pensado sobre os porquês de abrir um arquivo de Word e despejar palavras em seqüência que, organizadas, formam crônicas, artigos e colunas. Levei alguns dias para pensar no caso. A primeira reação: escrevo por uma questão de necessidade. Estou viciado na morfina que sufoca a angústia das palavras desordenadas em um texto qualquer.

A conclusão é simplista, quebradiça. È pouco! Demanda um texto com mais profundidade. A intenção serve para agora. Aqui estamos!

Quando escrevo, é o único momento em que me aproximo da liberdade. Escrever é a chave para escapar das convenções, das satisfações, das cobranças, das preocupações com o que o outro pode pensar ou como ele pode reagir. Instituições e estruturas de poder se tornam relativas; balançam, ainda que no campo da imaginação.

Escrevo porque sou egoísta, porque acaricio minha própria vaidade. Quem escreve o faz primeiro para si. Imaginar um leitor médio é como buscar uma entidade invisível do além para explicar a concretude do mundo. Confessemos: quem escreve não tem a menor ideia de quem lerá e como reagirá diante do conteúdo.

Escrevo porque sonho em quebrar as regras, transgredir com os próprios valores sem me mover. Escrever é saltar o muro que protege a opressão e a manipulação do cotidiano, dar um murro no carrasco e retornar para cá sem que ele perceba de onde veio a pancada.

Escrevo para fugir de mim mesmo. Tento escapar de minhas qualidades, enaltecer meus defeitos, deixar de lado a necessidade de agradar para pertencer e cultivar minhas fraquezas com todas as forças possíveis.

Escrever é um ato de petulância para aquele que fala o que não deveria ser dito. Cheira à manifestação de humildade, de quem fala o que precisa ser dito. Ou fede à submissão dos que falam o que outros ordenaram que seja dito.

Escrever é sangrar a indignação contra a estupidez do homem e do ambiente que o aprisiona. É o suadouro contra nossa própria impotência diante de quem nos mantém inertes. È vomitar as dores que deveriam nos empurrar para longe dos cantos, rumo ao centro dos acontecimentos que nos tornam únicos.

Escrevo para manipular os outros e a mim. A manipulação para perversidade e à intolerância? A orientação rumo ao diálogo? Ou a sedução para uma estação inesperada? 

Escrevo por almejar o mais alto grau de sensibilidade e poesia. Morro pelo olhar diferenciado, pelas sensações quase sempre ausentes de quem segue e não vê. O texto que sonha transpirar palavras-testemunhas do inusitado, o especial que nasce a partir do rotineiro.

Escrever é se apaixonar e, principalmente, respeitar as palavras. Nascem neutras, ganham peso histórico, constroem vidas, destroem reputações, matam crenças, ressuscitam princípios, aterrorizam os que as desprezam.

A escrita ambiciona o reconhecimento ilusório. Quem escreve veste as roupas do carrasco e o capuz da vítima. Quem escreve é refém da ambigüidade do controle sobre as palavras e da impotência quando as vê publicadas.     

Escrevo para reproduzir e perpetuar a dúvida. Significa fugir da verdade absoluta e a abraçar a incerteza como uma tábua no meio do mar. Cultuar o altar das perguntas que abdicam das respostas prontas e imediatas.

Escrevo por temer a indiferença. A morte para um autor é a cela obscura da ignorância dos leitores. Punir-me seria não me ler. Matar-me seria não comentar minha obra. Enterrar-me seria virar as costas à existência do meu pensamento por escrito.

Talvez escrever seja o ordinário fato de juntar palavras numa tela branca, numa página de caderno ou em pedaço de papel de pão. Prefiro crer que escrever seja um ato complexo de libertação. Cabe a cada autor acertar o destino das algemas que insistem em arroxear os pulsos e limitar os dedos no teclado ou na caneta.

Em tempo: Sicilio Rocco é o pseudônimo deste amigo, potencial vítima das patrulhas do politicamente correto. É alguém com dúvidas tão reais quanto profundas. E que também são minhas! Como as alucinações que embalaram as afirmações deste texto.


www.conversasedistracoes.blogspot.com

11 de junho de 2010

América do Sul goleia Europa no futebol!

Não se trata de nenhum ufanismo sul-americano. São apenas números, positivamente neutros eu garanto.

A população da Europa é de 745 milhões de habitantes, a da América do Sul de 304 milhões (dados de 2006)

São 46 países europeus e apenas 12 na América do Sul.

O PIB do velho continente, somente na União Européia chega perto dos 13 trilhões de dólares, do sulamericano mal chega a 3 trilhões de dólares.

Desnecessário listar mais dados para comparar o poderio dos dois continentes. Mas quando se trata de futebol, embora a Europa abrigue os torneios e clubes mais poderosos, a América do Sul detém a supremacia. Sim! É isso! Mesmo com times milionários, craques galácticos, mesmo levando nossos melhores jogadores, eles ainda perdem.

Se o futebol guardasse alguma relação com o tamanho da população (quantidade pode produzir qualidade?) a Europa deveria ter 2 vezes e meia mais campeões do que a América do Sul!

Se o futebol guardasse alguma relação com o tamanho das economias continentais (dinheiro produz campeões?) a Europa deveria ter 4 vezes e meia mais campeões do que a América do Sul!

Mas abandonemos o “se” e vamos aos números.

O mundial interclubes é disputado desde 1960 entre o melhor da Europa e da América do Sul. Desde então foram 49 edições.

Você que fez a conta não estranhe, são 49 mesmo e não 48 como diz a tola matemática, isso porque a idônea FIFA considera que em 2000 tivemos dois campeões: O Boca Jrs. que ganhou o mundial, e o Corinthians que ganhou a Libertadores...Ops! Que não ganhou a Libertadores mas foi convidado a participar de um torneio de verão chamado de mundial....deixa prá lá...faz de conta que o Corinthians é campeão mundial....vamos esquecer isso e voltar ao que importa sem provocações.

Como eu ia dizendo foram 49 edições desde 1960. 25 delas foram ganhas por times sul-americanos (Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e só). 24 foram ganhos por Europeus.

Nas decisões do mundial, desde 1980, é escolhido o melhor jogador. Foram 31 edições desde então. Em 17 oportunidades o escolhido foi de um time europeu, contra 14 vezes dos sul-americanos. Mas olhando com mais atenção as coisas não são bem assim.

Das 17 vezes em que o melhor jogador foi de um time europeu, nada menos do que 8 eram de origem estrangeira!

- 2009 Messi, do Barcelona: argentino

- 2007 Kaká, do Milan: brasileiro

- 2006 Deco, do Barcelona: brasileiro (português?)

- 2004 Maniche, do Porto: haitiano (português?)

- 2002 Ronaldo, do Real Madrid: brasileiro

- 2001 Kuffour, do Bayern Muniche: ganês (alemão?)

- 1990 Frank Rijkaard, do Milan, do Suriname (holandês?)

- 1987 Madjer, do Porto, argelino.

Refeitas as contas temos 5 sul-americanos, 1 centro americano e 2 africanos entre os “europeus”. Sobram 9 europeus “legítimos”...os demais “matéria-prima” importada da periferia para o centro, tudo dentro do nosso velho colonialismo.

Pois é, eles não ganham tanto sem nós...

Enfim, os números da Copa do Mundo.

Rigoroso empate: 9 copas ganhas por sul americanos (5 do Brasil, 2 da Argentina e 2 do bravo Uruguai) contra 9 copas para a Europa (4 da Itália, 3 da Alemanha, 1 da Inglaterra e 1 da França)

Ou seja, os europeus controlam a FIFA, sediaram mais da metade das Copas, tem mais estrutura, melhor nível de vida e mesmo assim só empatam com a pobre América do Sul.

É como se a América do Sul ganhasse de pouco ou empatasse com a Europa “jogando” apenas com meio time, e isso para mim é quase como golear.

Porém, a importação de jogadores da periferia já chegou às seleções. Alguém acredita que a França de 1998 ganharia sem os filhos de imigrantes negros e árabes? Zinedine Zidane não é nome típico da França, mas da colônia Argélia.

Nessa copa teremos brasileiros espalhados por diversas seleções, até mesmo na Alemanha teremos Cacau, alemão naturalizado. Assim com a economia européia só arrancou com “capital inicial” latino-americano, os times e seleções parecem precisar de sangue da periferia para dar algo mais.

Um dos encantos do futebol (ignorado por aqueles que só enxergam alienação no esporte) parece ser justamente esse poder de subverter a lógica, até mesmo a do poder financeiro que o envolve.

Quem sabe as surpresas que essa Copa trará...

9 de junho de 2010

O que é um PETARDO?

Dicionário Houaiss
* substantivo masculino
1          peça carregada de material explosivo, portátil, us. para destruir obstáculos
2          peça de fogo de artifício que produz um estampido ao arrebentar
3          Rubrica: futebol. chute violento, esp. contra o gol
* etim fr. pétard (petart 1495), de pet 'peido', do lat. pedìtum 'id.', do rad. de pedìtum, supn. de pedère 'peidar'; ver peid- * hom petardo(fl.petardar)

Reparem na etimologia! Quer dizer que o petardo = bomba veio de petardo = peido!? bom esse Houaiss...

Mas de acordo com o camarada Boka: “...na minha concepção ‘petardo’ ou é um discão lindo de rock, ou então um baseado bem servido e perfeitamente confeccionado...”

Pode ser simplesmente algo como a justiça prática: um pé que tarda mas não falha em meter um bela bica!

Você pode ajudar, comente esse post e mande sua versão: o que é PETARDO prá você?

Brincando de escalar a seleção

Deixando de lado as cagadas da convocação e me concentrando em extrair o melhor daquilo que Dunga levou eu escalaria o Brasil assim:

Do meio prá trás...
1 - Julio Cesar
2 - Maicon
3 - Lúcio, esses três incontestáveis
4 - Thiago Silva, para mim Juan está meia-boca, lento e sempre com dores e contusões
6 - Gilberto, fazer o quê...com Michel Bastos fica uma avenida no lado esquerdo...
5 - Josué, como primeiro volante defensivo é melhor que Gilberto Silva, que não mais como antes e mais equilibrado que Felipe Melo, que ainda vai fuder o Brasil esquentando à toa e tomando cartão

Acredito que com esses nomes nossa defesa estaria segura.

Do meio prá frente...
8 - Daniel Alves, tem que arrumar lugar prá esse cara...eu colocaria ele na meia direita, jogando mais aberto
10 - Kaká, esperemos que esteja bem fisicamente, não é o que parece...sem ele escalaria Ramires no meio.
11 – Robinho, colocaria ele um pouco mais recuado caindo pela esquerda, jogou assim no Santos várias vezes, tendo Neymar e André mais à frente.
7 - Nilmar, seria o atacante mais móvel, com liberdade para cair pelas pontas e rodar em torno de Luis Fabiano
9 – Luís Fabiano, o centroavante, não é craque, mas resolve e tem gana de fazer gol

Moto, trânsito e o ódio dos bacanas de carrão em São Paulo

Que muitos motoqueiros (motociclistas para os politicamente corretos...) cometem barbaridades não se contesta. Pelo contrário, as motos e os motoqueiros são alvos constantes de reclamação na grande mídia.

Mas a verdade no atacado nem sempre é a mesma no varejo, afinal o diabo está sempre nos detalhes. Os carros também cometem barbaridades, mas elas não merecem o mesmo destaque na mídia.

Obviamente a grande mídia representa a burguesia paulistana, que anda de carro; e é feita por jornalistas, que em sua maioria andam de carro.

Podem se apresentar mil argumentos concretos contra as motos, mas nada me tira da cabeça que há um problema de fundo, muito subjetivo, mas muito real presente no conflito entre carros e motos. Trata-se de uma nova versão da velha luta de classes. Calma, já me explico.

O carro em São Paulo sintetiza uma das maiores contradições do capitalismo: interesse privado X interesse público; interesse individual X interesse coletivo. Além da idéia de que o dinheiro sempre poderá comprar confortos como locomoção e velocidade para cada um. Mas a soma desses desejos individuais gerou o caos coletivo no trânsito e a promessa se tornou paralisia no congestionamento, e ataques de nervos. Nada mais óbvio.

Para o indivíduo que tem carro, sobretudo se for dos mais caros, a irritação é maior ainda. Ele constata que seu dinheiro não foi capaz de comprar a velocidade e o conforto prometidos, todo diferencial de status se acaba o congestionamento, onde um importado de mais de 100 mil, fica parado lado a lado com o Golzinho velho. É o trânsito democratizando a desgraça.

E como se isso tudo não bastasse o proprietário do carrão se depara com uma enorme fila de motos de 125 cilindradas passando a mais de 60 km/h no corredor (as vezes a 90 km/h!), a poucos centímetros de seu espelhinho. O motoboy, o motoqueiro, com motos velhas de 125 cilindradas, que mal valem R$3000,00 passam por ele. No seu íntimo o motorista deve pensar como Boris Casoy: - “vejam só, o mais baixo da escala social” me passando, e eu aqui parado!

Mas tem mais. Não raro este motorista se impacienta, acalenta o sonho imbecil de que a faixa ao lado anda mais rápido; muda de faixa bruscamente, muitas vezes sem dar seta. Para resolver seu “grave” problema quase mata o motoqueiro que vem no corredor. Algumas vezes, mas nem sempre, ele recebe uma punição. Sim, o “mais baixo da escala social” repreende o grande proprietário de carro com um pedagógico pontapé no retrovisor! Afinal, como dizem alguns motoboys “a gente não chuta espelhinho, simplesmente retiramos aqueles que não são usados”.

Parado, humilhado pela atitude e pelo prejuízo, ao motorista só resta odiar o motoqueiro e esquecer que ele é a causa do caos no trânsito e da falta de transporte público. Esses motoristas refletem uma sociedade que abandonou o engajamento coletivo e optou pelo individualismo. Que se fodam então! Sem lamentações.

PS: retomarei o tema em outros posts sobre os motoboys, seu papel na economia, indústria de motos e transporte público.

8 de junho de 2010

Copa do Mundo e o futebol-anão de Dunga

Pois é, terça-feira dia 15 tem jogo do Brasil.

A julgar pelas últimas copas vamos sofrer com um time de defesa forte e dois ou três para atacar.

É a "era Dunga", o futebol rebaixado, futebol-anão, em sua quinta edição.

1990: Isso mesmo, prá quem não lembra começou em 1990 com Lazaroni de técnico e Dunga no time, no ataque só Careca e Muller, de resto um amontoado de volantes. Perdemos para a Argentina, gol de Caniggia

1994: Parreira de técnico, o inevitável Zagalo de auxiliar. Novamente a mesma tática: no ataque só Romário e Bebeto, até o meia Raí foi sacado para a entrada de...adivinhem? Mais um volante.

Numa das Copas mais horríveis da história ganhamos, ou melhor empatamos covardemente com a Itália na fnal e "ganhamos" nos pênaltis. Pela primeira vez na história das Copas um time era campeão nos pênaltis (somente a historicamente retrancada Itália repeteria esse feio feito em 2006). Vencemos, para desgraça do bom futebol, confesso que esforcei para comemorar, uma espécie de alegria protocolar.

1998: O Brasil vai de Zagalo, nosso grande vencedor, o famoso "fila", "fila de uma puta" (com 13 letras!) de técnico gagá, até trocava os nomes dos jogadores. Mais sofrimento e terminamos com o vexame dos 3 a zero diante da França, que nunca havua ganho Copa.

2002: saímos do esquema Dunga-Zagalo-Parreira, com Felipão fomos campeões. Coincidência não?

2006: novamente Parreira de técnico, tão vencedor que dirigiu seleções em 7 copas e só venceu aquela... Novamente vexame contra a França, um time pesado (literalmente) e apático, Ronaldo semi-gordo tomou até chapéu de Zidane.

Os defensores do estilo Dunga, e ele mesmo, gostam de arrotar pragmatismo. Volta e meia respondem as críticas dizendo que futebol bonito não ganha, 1994 é seu paradigma.

Sejamos pragmáticos então: perdemos em 1990, perdemos em 1998, perdemos em 2006 e só ganhamos em 1994, na loteria dos pênaltis. Eis aí os resultados! De que lado estão os números? Uma vitória em 4 copas vale todo nosso sofrimento?

Uma coisa é certa. Se ganharmos não será por Dunga, será como sempre, por um lampejo de individualidade de Robinho, Kaká ou Luis Fabiano.

De resto é curtir a Copa mais pelo futebol do que pelo Brasil. Juntar os amigos, comer um petisco e beber cerveja. É prá isso que a Copa serve! Um pouco de lazer quebrando a rotina do trabalho, mas tem sempre um Dunga querendo nos fazer sofrer como se estivéssemos trabalhando.

Bons tempos aqueles em que Dunga era apenas o nome de um anão.

7 de junho de 2010

Energia Nuclear: Por que o Irã não pode?

Os EUA declararam oficialmente que possuem nada menos do que 5113 ogivas nucleares. (http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/eua+declaram+arsenal+nuclear+de+5113+ogivas/n1237604945425.html)

Não, não é uma acusação de um esquerdista radical ou de um iraniano xiita. É uma declaração oficial do Pentágono, feita no início de maio às vésperas da Conferência para revisão do tratato de não proliferação de armas nucleares. E isso são os dados oficiais, o que é declarado, que quase sempre é bem inferior aos números reais. Mesmo assim é de assustar o poder de destruição dessas ogivas.

Além dos EUA, boa parte dos países europeus, Rússia, China, Índia e Paquistão entre outros, possuem armas nucleares.

Não há nenhum movimento concreto que sinalize a eliminação dessas armas nucleares, as reduções, aprovadas às duras penas, são lentas e muito tímidas.

É curioso como a grande mídia dá pouco destaque a estes números e imenso destaque ao risco representado pelo Irã.

O Irã oficialmente não se propõe a produzir armas nucleares, mas apenas energia nuclear. As agências internacionais e organismos de espionagem constatam eles mesmos que o Irã ainda não tem condição de enriquecer urânio em quantidade e qualidade suficiente para produzir armas nucleares. Porque então tamanha polêmica sobre o país?

A ONU exige um acordo, bastante limitador para o país e que pôs em cheque sua soberania. O Irã relutou, depois assinou com a intermediação de Brasil e Turquia. Assinou tudo que pediam, mesmo assim está sendo ameaçado por sanções.

Nâo há explicação lógica, não explicação alguma baseada no direito internacional para as reações contra o Irã.

Mas há explicações, que de tão brutais revelam a verdadeira face do jogo político internacional.

É como se as grandes potências dissessem: - eu tenho (5133!) e mando, você não tem porque eu não quero você tenha!

Na falta de argumentos mais sólidos e na dificuldade de assumir seu cinismo, os países centrais fazem uma política internacional baseada na subjetividade: - eles dizem que não farão armas, mas eu duvido, porque eles são "maus"! mesmo que tenham assinado aquilo que pedi...

A verdade nua e crua é que o clube nuclear fechou e não admite mais sócios, ou, ainda mais brutal, que o capitalismo precisa de mais uma guerra e demonizará o Irã para viabilizá-la.

Num mundo que funciona assim, somos levados a compreender que a bomba atômica tornou-se garantia de soberania, atalho para uma relativa independência e seguro contra intervenção militar estrangeira. Os países centrais vigiam para que os demais não possam produzir a bomba e sigam vulneráveis à qualquer intervenção militar. Ou alguém pensa que os EUA invadiriam um Iraque realmente armando de bomba atômica?

A bomba atômica empata um jogo militar desequilibrado, justamente porque o conflito militar acaba sem vencedores e de pouco adiantam as 5133 ogivas americanas contra 1/2 dúzia de ogivas de um país qualquer. O imenso aparato militar estado-unidense torna-se quase inútil nesta situação. A indústria da guerra teria seu peso estratégico reduzido. A bomba atômica mantém a paz, ainda que tensa e perigosa, ela quilibra forças díspares.

Certa vez o manda-chuva do Paquistão declarou que povo, já muito miserável, comeria terra prá que eles pudesse construir a bomba atômica. A cruel declaração, era completada com o seguinte argumento:  
- Porque sem a bomba atômica nem mesmo terra comeremos, pois a Índia a tomará de nós!

Isso pode ser triste e cruel. Mas é equivocado? Alguém mostra outro caminho?

Fica a pergunta: o Brasil deveria ter bomba atômica? Se quiser ganhar autonomia, seja em que regime for, sim a bomba atômica é importante.

Ataques histéricos pacifistas não mudam essa realidade. Pelo menos até o dia em que todos abrirem mão de de seus arsenais.