14 de junho de 2010

Dunga e os chiliques da imprensa

Dunga não deveria ser o técnico do Brasil, convocou mal a seleção, escala mal mesmo dentre seus escolhidos e é um tipo que apregoa um patriotismo submisso e irracional típico de militares de pijama.

À parte tudo isso, reconheço que ele tem ampla razão ao menos num aspecto: o tratamento dispensado á imprensa. Tenho visto verdadeiros chiliques de jornalistas reclamando dos treinos fechados, das restrições às entrevistas coletivas, etc.

Puta que pariu! Há quase 4 anos, após a Copa de 2006, qual era uma das principais críticas?
- A preparação da seleção foi uma zona! Qualquer um entrava! Jogadores abusavam nas folgas, chegaram sem condições ao primeiro jogo! E por aí seguia o rosário desfiado pela imprensa.

Eis que Dunga fez aquilo que pediam: botou ordem na casa. Eu achei que as coisas seriam bem mais duras: nada de entrevistas, nada de coletivas, nada de treino aberto. Para mim seria justificável (e comum em outras seleções). Eu não tenho a menor necessidade de ver os treinos ao vivo, de ouvir Galvão Bueno narrando treino de dois toques, de ficar ouvindo nossos “gênios da bola” em entrevista. E, sinceramente, creio que a maioria dos brasileiros não sente falta disso.

Mas Dunga ainda abre diversos treinos, permite 15 minutos de imagens em treinos fechados, oferece todos os dias 2 jogadores às feras em entrevistas coletivas. Isso não basta? As TVs têm imagens “novas” e e jogador falando todo dia para seus noticiários. Mas há nisso um tratamento “igualitário”, e ser igual incomoda muita gente numa imprensa acostumada a privilégios, vide a Rede Globo.

O que querem? Imagens e entrevistas exclusivas? Revelar os segredos do Brasil que “só eles” sabem? Conseguir o “furo jornalístico”, mercadoria valorizada por chefes e patrocinadores? É a explicação mais plausível. Mas o que isso tem a ver com as necessidades da seleção? É útil ao Brasil revelar quem joga, como joga, as jogadas ensaiadas, perturbar jogadores com repórteres ávidos por entrevistas, de preferência exclusivas? A resposta é óbvia.

A nossa imprensa adora dizer que serve ao povo, à curiosidade geral do povo brasileiro, agem como se fossem eleitos para representar a vontade nacional – porque o jornalismo esportivo seria diferente do que cobre a política? – mas na verdade defendem apenas seus interesses, pois o povo quer ver jogo.

Deve ser um grande incômodo para as centenas de jornalistas que cruzaram o Atlântico para cobrir a seleção perceber que têm pouco trabalho, que são praticamente inúteis, que sem eles tudo e passa muito bem. A situação exige que sejam criativos, “inventem” novas pautas, sugere talvez que façam matérias sobre a realidade social e política da África, enfim, que façam aquilo que nunca fazem, um jornalismo mais interessante.

Essa situação mostra aos jornalistas suas limitações, o que deve acarretar um grande mal-estar. E não é que Dunga acertou em cheio? De uma só vez prepara melhor a seleção, cria um inimigo externo para motivar o grupo e coloca uma imprensa muito mimada no seu lugar.

3 comentários:

  1. Sobre o assunto, confira a entrevista do Socrates sobre a Copa. Muito bom.

    http://esporte.uol.com.br/ultimas-noticias/bbc/2010/06/10/para-socrates-brasil-nao-ganha-a-copa-e-pode-ser-eliminado-na-1-fase.jhtm

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  2. Li algumas postagens. Todas estão cheias de lucidez e muito bem escritas. Ótimo blog!
    Abração!

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  3. Vc disse tudo. Jornalistas de futebol, em sua maioria,desconhecem as regras, não acompanham o esporte como negócio, querem ser amigos dos jogadores, especulam e são servis à indústria do entretenimento. E ainda tem chiliques. Grande abraço.

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