9 de junho de 2010

Moto, trânsito e o ódio dos bacanas de carrão em São Paulo

Que muitos motoqueiros (motociclistas para os politicamente corretos...) cometem barbaridades não se contesta. Pelo contrário, as motos e os motoqueiros são alvos constantes de reclamação na grande mídia.

Mas a verdade no atacado nem sempre é a mesma no varejo, afinal o diabo está sempre nos detalhes. Os carros também cometem barbaridades, mas elas não merecem o mesmo destaque na mídia.

Obviamente a grande mídia representa a burguesia paulistana, que anda de carro; e é feita por jornalistas, que em sua maioria andam de carro.

Podem se apresentar mil argumentos concretos contra as motos, mas nada me tira da cabeça que há um problema de fundo, muito subjetivo, mas muito real presente no conflito entre carros e motos. Trata-se de uma nova versão da velha luta de classes. Calma, já me explico.

O carro em São Paulo sintetiza uma das maiores contradições do capitalismo: interesse privado X interesse público; interesse individual X interesse coletivo. Além da idéia de que o dinheiro sempre poderá comprar confortos como locomoção e velocidade para cada um. Mas a soma desses desejos individuais gerou o caos coletivo no trânsito e a promessa se tornou paralisia no congestionamento, e ataques de nervos. Nada mais óbvio.

Para o indivíduo que tem carro, sobretudo se for dos mais caros, a irritação é maior ainda. Ele constata que seu dinheiro não foi capaz de comprar a velocidade e o conforto prometidos, todo diferencial de status se acaba o congestionamento, onde um importado de mais de 100 mil, fica parado lado a lado com o Golzinho velho. É o trânsito democratizando a desgraça.

E como se isso tudo não bastasse o proprietário do carrão se depara com uma enorme fila de motos de 125 cilindradas passando a mais de 60 km/h no corredor (as vezes a 90 km/h!), a poucos centímetros de seu espelhinho. O motoboy, o motoqueiro, com motos velhas de 125 cilindradas, que mal valem R$3000,00 passam por ele. No seu íntimo o motorista deve pensar como Boris Casoy: - “vejam só, o mais baixo da escala social” me passando, e eu aqui parado!

Mas tem mais. Não raro este motorista se impacienta, acalenta o sonho imbecil de que a faixa ao lado anda mais rápido; muda de faixa bruscamente, muitas vezes sem dar seta. Para resolver seu “grave” problema quase mata o motoqueiro que vem no corredor. Algumas vezes, mas nem sempre, ele recebe uma punição. Sim, o “mais baixo da escala social” repreende o grande proprietário de carro com um pedagógico pontapé no retrovisor! Afinal, como dizem alguns motoboys “a gente não chuta espelhinho, simplesmente retiramos aqueles que não são usados”.

Parado, humilhado pela atitude e pelo prejuízo, ao motorista só resta odiar o motoqueiro e esquecer que ele é a causa do caos no trânsito e da falta de transporte público. Esses motoristas refletem uma sociedade que abandonou o engajamento coletivo e optou pelo individualismo. Que se fodam então! Sem lamentações.

PS: retomarei o tema em outros posts sobre os motoboys, seu papel na economia, indústria de motos e transporte público.

8 comentários:

  1. Boa reflexão. E pedalando esse "tapa na cara" é ainda mais forte.

    A ilusão de mobilidade do automóvel fica distante da realidade a cada dia.

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  2. Fantástico seu texto, reflete a verdade não só de São Paulo mas de todo planeta, aqui em Salvador caminhamos para o mesmo destino do transito caótico paulista.

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  3. Texto perfeito, só não esquecendo que muitos outros (como eu) andam de moto por opção de transporte, não trabalho como motoboy, sim uso ela pra me locomover para o trabalho, estudo e para casa, o que acaba ocorrendo é a generalização, que todos que andam de moto são motoboys, sendo alvos de incrivel desrespeito pois considerados "o mais baixo da escala social”, mal tratados pelos motoristas e autoridades, como a policia.

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  4. eu também ando de moto e não sou motoboy e com certeza as motos são apenas um aspecto da coisa: pedestres, bikes e o transporte público serão objeto de outros posts, valeu pelos comentários!

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  5. O cara do carro que reclama que o Motoboy tá fazendo barbaridades no transito é o mesmo que exige que a Pizza chegue quente à sua casa.

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  6. Caros, não fiquem bravos comigo, hein? Na minha opinião, motociclistas não deveriam andar no corredor entre os carros. Isso evitaria inúmeros acidentes.
    Obs.: Eu não dirijo, não tenho carrão, sou apenas pedestre.
    De qualquer forma, o texto é uma boa reflexão.
    Abraços!

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  7. a uns babacas que andan com o transito parado a 60 km, no meios dos carros com motos que o freio não funcionam bem, um carro troca de faixa este imbecil bate e fala para todos os motoqueiros que o motorista bateu nele. quer ser respeitado, respeite a leis do bom senso e do transito. ai as coisas vão começar melhorar.

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  8. diga não a escravidão18 de maio de 2011 às 11:57

    eu fico triste pelos motoboys, trabalha no sol e na chuva, trabalha no frio, e um patrão espertalão fica atras da mesa pegando um monte de serviço, e ligando a cada instante fazendo pressão psicologica no funcionario, para ele entregar todo o serviço, ele corre e se acidenta, o patrão manda ele para o seguro, e no outro dia arrumo outro para seu lugar. abre o olho motoqueiro, não seja massa de manobra. cobre mais pelo seu serviços, ele é esencial.
    tem muito espertalhão fficando rico esplorando a catecoria.

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